‘OPERAÇÃO CARDUME’
Durante as apurações da Polícia Federal (PF) sobre a atuação da maior quadrilha de tráfico internacional de drogas que agia no Ceará atualmente, outras negociações ilegais do bando foram desveladas. Os investigadores da ‘Operação Cardume’, deflagrada em setembro, descobriram que além dos narcóticos que vinham do Paraguai, um núcleo da quadrilha contrabandeava armas de grosso calibre de lá. Segundo a PF, o acusado de comandar a negociação dos fuzis seria também filiado a uma das principais facções do País, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Lindoberto Castro Silva, o ‘Louro’, já é conhecido da Polícia do Ceará e se envolveu em ações audaciosas e bastante violentas. Somente no ano de 2012 ele foi preso duas vezes. A primeira, em junho, em uma operação de combate ao tráfico da Delegacia de Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil, que o apontou como chefe de uma quadrilha com atuação em Fortaleza e em várias cidades do Litoral Leste; a segunda prisão se deu depois de um ataque a banco, na cidade de Palhano (150Km de Fortaleza).
No curso das investigações da ‘Operação Cardume’, foi aberto um novo inquérito para apurar exclusivamente o tráfico de armas e munições, praticado pela parte da quadrilha chefiada por Silva. Este procedimento foi desmembrado do original e está em andamento na Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio (Delepat) da PF.
Conforme o delegado Janderlyer de Lima, titular da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Decor), que investiga a organização criminosa da qual ‘Louro’ fazia parte, o armamento era todo trazido do Paraguai. O delegado ressalta que Silva não era importante apenas no tráfico de armas, mas era fundamental no tráfico de drogas também. O núcleo da quadrilha que ele comandava tinha forte atuação no Ceará e Rio Grande do Norte. Lindoberto Silva foi o ponto de partida das investigações da PF.
Camarões
O nome da operação foi inspirado na atividade que ‘Louro’ declarava que exercia. O criminoso se dizia empresário do ramo da carcinicultura, proprietário da empresa VL El Saday, em Pacajus. A princípio, a Polícia acreditou que ele fosse o responsável por toda a organização criminosa.
“Demos o nome de ‘Cardume’ à operação, porque pensamos que ele era o chefe da quadrilha e fizemos uma alusão ao produto que ele negociava (camarões). Quando as investigações avançaram, percebemos que ele era, na verdade, subordinado a dois empresários, que eram Cícero de Brito e George Gustavo da Silva. Mesmo não sendo o maior na organização, Lindoberto tinha uma representatividade grande e um alto poder de articulação com outros criminosos”, explicou Janderlyer de Lima.
O juiz Danilo Fontenelle determinou a prisão preventiva de ‘Louro’, por conta de seu envolvimento com os crimes investigados pela ‘Operação Cardume’. A decisão da 11ª Vara da Justiça Federal diz, com base no inquérito da PF, que o acusado é “traficante expoente e um dos maiores distribuidores de droga do Ceará. Estaria envolvido com a negociação de armas, inclusive fuzis. Criminoso contumaz, foragido da Justiça Estadual. Envolvido com assaltos a banco, posse de arma de fogo, tráfico de drogas e outros crimes”.
PCC
Janderlyer de Lima disse que interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça conseguiram captar áudios em que Lindoberto Silva e dois comparsas, subordinados a ele, identificados como Paulo Diego da Silva Araújo e Roberto Sousa afirmam ser filiados a uma das mais perigosas facções do País, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
O armamento trazido por ele do Paraguai era negociado com outros integrantes do PCC e vendido ou alugado aqui no Ceará, segundo o delegado. “Estas armas de grosso calibre custam muito caro no mercado ilícito. Esta era uma forma a mais de adquirir dinheiro. Era um negócio lucrativo para eles, que já tinham contato com os traficantes paraguaios e se aproveitaram disto para comprar também as armas. Além de vender os fuzis, eles também alugavam para que criminosos de outros ramos agissem. A possibilidade de que parte destas armas tenha sido utilizada em ataques a banco no Estado não pode ser descartada”, disse o delegado.
Além de ‘Louro’ outros criminosos presos pela Polícia Federal na operação também estariam traficando armas. Janderlyer Lima disse que a PF esteve em endereços, onde era provável que os fuzis fossem encontrados, mas nenhuma arma foi apreendida por enquanto.
Ataque a banco
Lindoberto Silva já foi preso por ter assaltado um banco, em uma das ações mais violentas do Estado. Durante uma troca de tiros entre criminosos e a Polícia, quatro homens foram mortos. O ataque aconteceu no dia 4 de dezembro de 2012, na agência do Banco do Brasil de Palhano.
Na ocasião, o bando metralhou a sede do destacamento policial e fez PMs reféns. A quadrilha foi perseguida e cercada pelo Comando Tático Rural (Cotar). Houve uma troca de tiros na localidade de Serra do Félix, em Beberibe, onde quatro suspeitos morreram. No local foram apreendidas uma metralhadora, seis pistolas e uma escopeta.
Lindoberto Silva foi preso pelos militares e apontado pela cúpula da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) à época do crime, como o financiador do ataque e um dos criminosos que estavam na linha de frente, no momento do assalto.
“Hoje em dia ele não é mais bandido de linha de frente. Estava ganhando dinheiro com o tráfico e havia migrado para uma posição mais confortável. Era um importante fornecedor de armas, que ficava na retaguarda de ações perigosas”, disse Janderlyer de Lima.
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE – CEARÁ – 14/10/15