“O que sentimos é desespero, pânico e medo”. O sentimento é de um vigilante de carro-forte e colega de trabalho do segurança de 33 anos morto durante assalto em Guatapará (SP), na noite de segunda-feira (9). Uma quadrilha fortemente armada atirou contra o veículo blindado e levou o dinheiro que era transportado após explodir a viatura.
O vigilante, que prefere não ser identificado, afirma que a preocupação com ataques a carros-fortes faz parte da rotina de trabalho dos profissionais, que precisam lidar com assaltantes munidos de armamento pesado. O veículo atacado durante a noite foi osegundo alvo de ladrões na Rodovia Antônio Machado Sant’Anna em quatro meses.
“O que vem na cabeça é que eu posso descer do carro e que a minha mulher pode chorar o que a mulher dele [segurança morto em Guatapará] está chorando hoje. A realidade é essa”, disse o vigilante em entrevista à EPTV. “Está cada vez mais perigoso, ainda mais no Estado de São Paulo”.
O profissional reclama das condições de trabalho e da ineficiência do armamento utilizado pelos vigilantes e da blindagem ultrapassada, segundo ele. “Não é carro-forte, é carro fraco. A blindagem não suporta mais, não aguenta mais o poderio de fogo da bandidagem”, comentou.
De acordo com as cápsulas encontradas nos locais dos ataques e nos veículos atingidos, as armas usadas pelos assaltantes são as mesmas usadas em guerras. “Uma ‘ponto 50’ é uma arma de grosso calibre que perfura blindagem até de tanque de guerra e nós temos uma blindagem que suporta somente tiros de fuzil”.
Segundo a Polícia Rodoviária, os assaltantes que atiraram contra o carro-forte na rodovia em Guatapará nesta segunda-feira estavam com fuzis 556 e 562, de uso exclusivo das Forças Armadas. Normalmente, os profissionais de segurança usam armas calibre 38.
O vigilante cobra medidas para aumentar a segurança dos profissionais que atuam com o transporte de carga de valor. “Queremos melhorar o armamento nosso para nos defender, ninguém aqui está querendo matar ninguém, queremos o nosso direito que é a vida”, afirmou. “O secretário de Segurança Pública que deveria cobrar alguma coisa da legislação não faz nada pra gente, estamos à mercê”.
Procurada pela reportagem do G1, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública (SSP) não respondeu aos questionamentos feitos pelo vigilante cobrando medidas de segurança.
A Protege, responsável pelo carro-forte atacado, informou em nota que está apurando os fatos e que está à disposição das autoridades. A empresa, no entanto, não comentou as críticas feitas pelo vigilante com relação à segurança dos profissionais.
“Em relação ao ocorrido na noite desta segunda-feira, 9, na região de Araraquara, com um de seus carros de transporte de valores, a Protege informa que está apurando os fatos e à disposição das autoridades policiais”.
a carro-forte (Foto: Fábio Júnior/EPTV)
O assalto
Uma quadrilha com oito homens fortemente armados explodiu um carro-forte e matou um dos vigilantes do veículo blindado durante assalto na Rodovia Antônio Machado Sant’Anna, entre Araraquara eGuatapará (SP).
O veículo saiu em comboio com outro carro-forte de São Carlos (SP) em direção a Ribeirão Preto (SP) e o motorista de um dos veículos percebeu que estava sendo seguido por dois carros. Para tentar despistar dos suspeitos, ele atravessou o canteiro e conseguiu fugir na contramão.
Os banidos, então, atiraram no outro carro-forte e atingiram um dos seguranças do veículo. O vigilante, de 33 anos, morreu na hora. Durante o tiroteio, o carro-forte bateu em um dos veículos usados pela quadrilha, que capotou.
Segundo a polícia, pelo menos oito assaltantes continuaram atirando para forçar os vigilantes a sair do veículo, o que não ocor
Eles roubaram os malotes com dinheiro, mas a quantia levada não foi informada pela polícia nem pela empresa responsável pelo transporte e segurança da carga.
Os homens fecharam a via e pararam todos os motoristas que passavam pela rodovia. O carro de um taxista foi roubado e usado para a fuga dos assaltantes e uma viatura da polícia tentou parar o táxi, houve troca de tiros, mas os bandidos fugiram e ninguém foi preso.
Outros casos
Nos últimos meses, outros dois casos de assaltos a carros-fortes foram registrados nas regiões de Ribeirão Preto e São Carlos. No dia 10 de julho, assaltantes tentaram roubar três veículos na Rodovia Antônio Machado Sant’Anna, entre Rincão e Guatapará.
A quadrilha conseguiu acertar diversos tiros e estava fortemente armada, incluindo fuzis, e ninguém ficou ferido. Um dos carros-fortes parou no pedágio enquanto que os outros conseguiram chegar até São Carlos. O veículo que ficou no pedágio foi escoltado de volta para Ribeirão Preto, pois levava dinheiro.
No dia 7 de agosto, na Rodovia Abrão Assed, próximo a Cajuru (SP), uma quadrilha roubou R$ 1 milhão de um carro-forte e matou um dos seguranças do veículo. Após o assalto, o grupo interceptou dois veículos que faziam a escolta de presidiários e libertou 37 presos na rodovia.
Os presos já foram recapturados, segundo a Secretaria de Segurança Pública e quatro suspeitos de integrar a quadrilha foram presos na região de Campinas.
Fonte: Globo.com