Duas investigações de fraude envolvendo a transportadora de valores Embraforte seguem ritmos e caminhos diferentes nas esferas federal e estadual. A primeira, concluída há dois meses pela Polícia Federal (PF), resultou, nesta quinta, na prisão preventiva de P.H.G.V., um dos sócios da empresa – o pai e o irmão dele, também donos, continuam foragidos. A outra, finalizada há três meses pela Polícia Civil, ainda aguarda denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), mas, de antemão, já teve parecer negativo contra o pedido de prisão dos acusados.
A Embraforte é suspeita de aplicar golpes de R$ 22 milhões contra o Banco do Brasil (BB) e de R$ 13 milhões contra a Caixa Econômica Federal (CEF), o que atingiu também casas lotéricas de Belo Horizonte. A fraude teria sido aplicada no período em que a transportadora prestou serviço para essas instituições – entre os anos de 2007 a 2013. A empresa era comanda por M.A.P.V.,e por seus filhos e sócios M.F.G.V. e P.H. – respectivamente irmão e sobrinhos de R.V., ex-secretária de Estado de Planejamento e Gestão de Minas.
As investigações dos casos começaram entre 2013 e 2014. A Polícia Civil ficou a cargo de investigar o golpe maior, contra o Banco do Brasil. O delegado Cláudio Freitas Utsch Moreira concluiu, em 12 de junho deste ano, pelo indiciamento dos três donos da Embraforte e também do gerente e braço-direito dos sócios, Mário Pereira de Carvalho. Pelas investigações, a transportadora teria abastecido os caixas eletrônicos do banco com valores menores do que os registrados nos malotes e no sistema. “O trabalho da Polícia Civil foi concluído. Apuramos, indiciamos e pedimos a prisão dos envolvidos. Agora, quem tem que explicar porque não houve andamento são o promotor e o juiz”, disse.
No MPMG, a promotora Nidiane Moraes se manifestou contra o pedido de prisão preventiva dos indiciados, por considerar que não há indícios de fuga ou constrangimento de testemunhas nem risco para a ordem pública em virtude da suposta continuidade das atividades ilícitas. Ela ainda pediu à Justiça dados do Banco do Brasil sobre os contratos e atos praticados pela Embraforte, o que, segundo nota do MPMG, estão pendentes no inquérito policial e são considerados “indispensáveis ao oferecimento de denúncia”.
Tais informações ainda não teriam sido repassadas à promotora pela Justiça, que, por sua vez, informou que não se manifesta sobre casos na fase de inquérito. “Esperamos agilidade maior para que possamos dar uma resposta à sociedade. O golpe prejudicou muito a imagem do setor e dos profissionais que trabalhavam na Embraforte”, afirmou o presidente do Sindicato dos Empregados das Empresas de Transportes de Valores de Minas Gerais (Sinttrav), Emanoel Sadir.
Ele comemorou, por outro lado, o andamento do inquérito comandado pela PF, que apurou a suspeita de fraude envolvendo a Caixa Econômica Federal. “Lamentamos que o golpe venha de uma empresa de transporte de valores, mas o sindicato acredita a que justiça está sendo feita”.
Saiba mais sobre os casos
Mandados. Além de P.H.G.V., que permanece preso em São Paulo (SP), e de mais dois donos da Embraforte foragidos, foram indiciados também dois gerentes da empresa.
Crimes. Todos respondem por peculato, falsidade ideológica e associação criminosa de forma continuada. Caso sejam condenados, eles poderão pegar até 20 anos de prisão.
Golpe. No caso da Caixa, a empresa é suspeita de não abastecer os caixas eletrônicos com os valores devidos – assim como teria ocorrido com o BB – além de desviar malotes das casas lotéricas.
Defesa. Os advogados dos donos da Embraforte não quiseram se manifestar.
MPMG. O órgão apura ainda suposta ingerência de Renata Vilhena, que é citada no inquérito da Polícia Civil.
Parte do dinheiro foi recuperada pela Caixa
A Caixa Econômica Federal informou, em nota, que já recuperou judicialmente parte dos valores que teriam sido desviados pela Embraforte. Já os lotéricos lesados ainda não receberam qualquer ressarcimento e prometem cobrar o dinheiro na Justiça, caso não haja determinação de devolução nos próximos meses.
O Banco do Brasil informou que tomou as medidas cabíveis para resguardar seus interesses e que demais informações deveriam ser solicitadas às autoridades responsáveis pela investigação. Sob o argumento de sigilo, as Justiças Federal e Estadual não informaram se houve ordem de apreensão de bens dos donos da Embraforte.
A medida teria sido tomada na esfera da Justiça do Trabalho, a pedido do Sindicato dos Empregados das Empresas de Transportes de Valores de Minas Gerais (Sinttrav), que entrou com uma ação coletiva pedindo o pagamento de direitos trabalhistas dos ex-vigilantes da empresa. A decisão, entretanto, não foi confirmada pelo Tribunal Regional do Trabalho de Minas.